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domingo, 29 de maio de 2011

Produção de Nozes - questões que devem ser questionadas...

Quando desejamos investir em nozes há várias questões que têm que ser equacionadas e a saber:

MERCADO 
o mercado das nozes em casca onde Portugal importa cerca de 95% do que consome é bastante original. O seu consumo restringe-se essencialmente ao último trimestre do ano, descendo drasticamente até á Páscoa e a partir daí é quase nulo. As nozes importadas têm origem no Chile, França e Estado Unidos da América. A data da apanha é nos meses de Abril e Maio (Chile), última quinzena de Outubro e primeira de Novembro (França) e Novembro (EUA- nozes da Califórnia). 


Admitindo que as nozes que aparecem no mercado são frescas, o que nem sempre acontece e considerando que o prazo de consumo de nozes naturais não deve ir alem dos 11 meses e nozes lexiviadas (branqueadas) menos 2 ou 3 meses, a produção nacional pode ter algum interesse, principalmente para as nozes produzidas no Baixo Alentejo em que há variedades cuja apanha começa entre 10 e 15 do mês de Setembro e passados 4 dias estão disponíveis, quando efectivamente começa a procura. As nozes produzidas em Trás-os-Montes e devido às geadas de Março e Abril têm que ser variedades tardias e por conseguinte a sua apanha nunca será antes da 2ª quinzena de Outubro. Esta é uma das dificuldades, mas a outra e não menos importante é que as nozes oriundas de França são na sua maioria de calibres muito baixos (26 a 28), que eu considero de refugo e de 28 a 30 e por conseguinte os preços são incomportáveis num mercado aberto, onde as grandes e médias superfícies olham essencialmente para o valor de compra. A França que é o maior produtor, importador e exportador de nozes da Europa tem nozes de boa qualidade, só que essas vão para mercados com outro poder de compra. As nozes oriundas do Chile e dos EUA, são de calibres normais (32 a 34), mas têm o inconveniente de aparecerem no mercado lexiviadas e de aquelas serem colhidas demasiado cedo para o nosso mercado e estas demasiado tarde.  

Para concorrer às grandes e médias superfícies é necessário ter grandes quantidades e portanto áreas de produção nunca inferiores a 50 Ton, o que é limitativo para o nosso agricultor o fazer individualmente e também impossível concorrer com aqueles preços com nozes de calibres normais (acima dos 30). Aqueles calibres (inferiores a 30) e num pomar de variedades razoáveis e bem tratado não chega a 10% e todo o valor, por mais pequeno que seja, é bom desde que seja compensado com o valor de venda das restantes 90%.

O mercado das nozes em miolo (quartos) e considerando que a concorrência é dos países do Leste Europeu (sobretudo da Roménia) e da Índia (este de péssima qualidade), os preços são de todo impossíveis de acompanhar. Este miolo e atendendo á qualidade / preço, é utilizado na pastelaria, principalmente no bolo-rei. O miolo em metades, tem um bom preço, mas tem um custo elevado na sua produção e o consumo é demasiado pequeno para poder ser considerada a sua industrialização.
Em resumo; se os consumidores não forem mais exigentes e conhecedores deste tipo de fruto, resta-nos poucas possibilidades de êxito a não ser em explorações familiares e muito bem controladas, com custos de produção muito baixos.

TERRA (solo) 
As nogueiras são muito exigentes quanto à cama que lhe vamos proporcionar: querem terras fundas, ricas e bem drenadas. O inimigo nº 1 das nogueiras pode-se considerar o encharcamento. Creio que no nosso caso, as terras baixas onde normalmente plantávamos as batatas e outras que eram utilizadas para lameiros, desde que não sejam alagadiças, são as mais aconselháveis. 


ÁGUA 
As nogueiras e em exploração intensiva e se quisermos ter uma boa produção, necessitam de regas no final da Primavera e durante o Verão, em conformidade com o solo onde estão plantadas e o seu tamanho. É um erro pensar produzir nozes em sequeiro, a não ser para consumo familiar.
RECOLHA (apanha) dos frutos – Num pomar intensivo e que se visa a venda das nozes, tem que se pensar no varejamento mecânico e nas consequentes máquinas de tirar o cascarão, secadores, máquina de calibrar e máquina de extracção das falidas. 

Creio e salvo melhor opinião, já poder decidir se vamos ou não avançar com o nosso projecto, quer ele seja financiado ou não. Ter muito cuidado com os financiamentos, pois muitas vezes aquilo que julgamos de facilidades não o são de modo algum. Torna-se necessário ter em atenção que num compasso aconselhável, nunca inferior a 8x7, ter uma produção média de 1 700 kg por ha é muitíssimo bom, que o retorno do capital investido nunca é inferior a 6/7 anos, o que é muito diferente daquilo que se vê inscrito nas folhas A4 quando os projectos se apresentam a despacho nos Departamentos do Ministério da Agricultura.

Preparação do Terreno
O solo tem que ser profundo e bem drenado; as terras que se utilizavam para plantar batatas de consumo ou semear trigo, ou os lameiros desde que não sejam alagados são as mais indicadas. Antes da plantação e tal como se torna necessário para qualquer pomar deve-se fazer uma lavoura bastante profunda ou de preferência uma ripagem.

Escolha dos porta enxertos
Dos diversos porta enxertos (nigra,regia,hindsii, paradox) creio que o mais aconselhável será o paradox ou o regia. Para plantações pequenas, pode-se fazer um viveiro com as nossas nogueiras antigas, de preferência as de casca mais rija, que não são mais do que regias e proceder posteriormente á enxertia.

Variedades Produtivas e Polinizadoras
As variedades e tendo em consideração o nossa clima, principalmente com Invernos frios, prolongados e com geadas tardias, terão que ser árvores de floração para o fim do mês de Abril (tulare, lara e chandler com muita reserva, fernor, fernette e franquette preferencialmente). Têm a vantagem de se protegerem das geadas tardias, mas com o inconveniente da maturação dos frutos ser em fins do mês de Outubro ou princípios de Novembro, aparecendo no mercado já um pouco tarde. O mercado das nozes, processa – se essencialmente no último quadrimestre do ano e as nozes do Baixo Alentejo, por exemplo, estão á venda a partir do dia 20 de Setembro. As variedades nesta Província e porque não há o risco das geadas, já são aconselháveis outras (serr, hartley, howard, tulare, lara e chandler,). 

As polinizadoras, considerando que são absolutamente necessárias em qualquer pomar, são nogueiras cuja floração masculina coincide com a floração feminina das árvores a polinizar. Quase todas as variedades de nogueiras têm flores masculinas, que antecedem as flores femininas entre 5/10 dias e a libertação do pólen daquelas não coincide com a altura da recepção destas, pelo que é necessário ter 5 a 10% de polinizadoras. As variedades acima referidas estão por ordem de floração, da mais serôdia á mais tardia, pelo que podem servir perfeitamente como polinizadoras umas das outras. De qualquer modo, qualquer variedade também se auto poliniza, mas se não houver polinizadoras, a produção é bastante menor (pode chegar aos 80%). Estas e para o efeito ser maior, devem estar dispersas pelo pomar e de preferência do lado em que sopram os ventos e ter mais que uma variedade, minimizando deste modo as irregularidades da floração, fruto das condições climatéricas que normalmente não são constantes. O excesso de pólen, que se diz propiciar o aborto dos frutos (PFA), principalmente na variedade serr, não tenho dado por ele na minha exploração. Esta variedade carrega-se de flor masculina (amentilhos), mas quando aparecem as flores femininas, os amentilhos já libertaram o pólen, sem qualquer utilidade e já caíram. Esta situação é normal em todas as variedades e muito mais acentuada quando há alterações climatéricas de um dia para o outro. 


Linha de nogueiras FERNOR, FERNETTE e FRANQUETTE que funcionam como polinizaoras do sector das HARTLEYS.

Variedade TULARE que funciona como polinizadora do sector das SERRS
Podas de Formação, Frutificação e Rejuvenescimento

A poda de formação visa adequar a árvore, considerando o seu desenvolvimento equilibrado e uma boa penetração da luz. Pode ser em vaso ou em eixo vertical. Há variedades que aconselham uma ou outra ou qualquer delas. O compasso, que não deve ser inferior a 8x7 na poda em vaso, pode ser ligeiramente menor na poda em eixo vertical. A poda mais aconselhável e por ser mais simples, é a poda em vaso. Estas podas começam logo a ser feitas após a plantação e são essencialmente importantes nos primeiros três anos.

A poda de frutificação ou produção, que é feita a seguir á poda de formação, portanto a partir do terceiro ano, visa a maior e melhor produção, eliminando a madeira morta, um ou outro ramo mal inserido e que prejudique a penetração da luz e deve ser feita todos os anos.

A poda de rejuvenescimento visa a eliminação de ramos envelhecidos e o fortalecimento de árvores debilitadas.

Qualquer destas podas deve ser feita durante o período vegetativo morto ou seja nos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

Tratamento do Pomar
Nos primeiros quatro anos é aconselhável mobilizar o terreno, pois mantêm-o limpo das infestantes e favorece o enraizamento; a partir deste período deve-se utilizar herbicida nas linhas e deixar o enrelvamento natural nas entrelinhas, devendo ser cortado quando se achar necessário com máquinas apropriadas, deixando no próprio local os desperdícios, que junto com os ramos mais delgados das podas, constituem uma boa matéria orgânica. Este processo limita a erosão, enriquece o solo, facilita a retenção da água das chuvas e sua infiltração e a circulação das máquinas.
A rega que se torna fundamental para o desenvolvimento das árvores, aumento da produção e qualidade das nozes, não pode ser posta de parte e há que ter um cuidado especial. A água é fundamental, mas o excesso provoca a morte das árvores. O período de maior necessidade é o mês de Junho e Julho, diminuído até 10 dias antes da recolha, quando se deve dar por terminada. Há vários processos de rega, mas a microasperção, parece-me o mais aconselhável. Neste caso e ou em qualquer outro, há que ter em atenção que se deve molhar pelo menos 60% da superfície da copa. O inicio da rega, a periodicidade e as quantidades devem ser objecto de orientação com aparelhos próprios (watermarks ou tensiometros). No meu caso utilizo e com sucesso os tensiometros, tendo o cuidado de os colocar no inicio da rega e levantar no fim. Com qualquer dos aparelhos deve-se iniciar a rega quando marcam 60 bares e nunca permitir que baixem os 10. O ideal será mantê-los entre os 25/35 bares. Como as raízes funcionam até aos 40 cm, os mesmos deverão ser colocados na zona de rega até esse limite. Admitindo que o solo onde está inserido o pomar é mais ou menos uniforme, bastará apenas um aparelho.

Como processo expedito, uma verguinha helicoidal em aço de 5mm que se espeta e tira na zona molhada ou a molhar, dá-nos uma boa indicação.

Os tratamentos fitossanitários devem ser feitos atempadamente, considerando caso a caso. Estes incidem sobre a bacteriose, a antracnose, o bichado (carpocapsa), a broca (zeuzera), diversos piolhos, ácaros …. Se necessário e para o conveniente tratamento, há que procurar uma casa da especialidade, mas ter muito cuidado com as cargas demasiadas elevadas que se preconizam com cobres para a bacteriose e antracnose. Qualquer destas doenças ou pragas são facilmente detectáveis, no entanto para o caso do bichado e broca, aconselha-se a utilização de armadilhas próprias, como auxiliar para a detecção da população e consequente tratamentos a efectuar. O bichado pode destruir uma produção, mas facilmente se ataca com os produtos existentes no mercado; a broca, que no Alentejo e porque o clima lhe é muito favorável e até pelas defesas que tem, pois aloja-se em galerias, necessita de uma atenção especial e quando instalada num pomar, pode destruí-lo completamente. Infelizmente, os produtos disponíveis no mercado e homologados para a agricultura convencional, são pouco ou quase nada eficazes.

A fertilização é absolutamente necessária e para satisfazer as necessidades das árvores, terá que se proceder á análise da terra e das folhas, esta como complemento (a efectuar em meados de Julho) e proceder em conformidade.

Recolha dos frutos e preparação para venda
A apanha dos frutos não pode ser manual, a não ser em pomares muito pequenos e só nos primeiros anos de produção. O varejamento por vara é impensável, acarreta muita mão-de-obra e prejudica as árvores, pelo que se deve proceder á vibração mecanizada. Para este efeito já existem no mercado diversas máquinas, quer independentes quer ligadas a tractores, que se utilizam nas amendoeiras e nas oliveiras As nozes e após a recolha terão que ser imediatamente descascadas (extracção do cascarão), em máquinas próprias e directamente enviadas para os secadores. O processo de secagem que dura normalmente 30 a 60 horas, necessita de cuidados especiais no controle da temperatura; seguidamente são calibradas, passadas pela máquina de extracção das chochas, tapete de escolha, ensacagem e pesagem, estando prontas para a entrada no mercado. Quanto ao mercado e como já referi anteriormente e enquanto não se privilegiar os produtos nacionais, quer pelos agentes comerciais, quer pelo consumidor, as dificuldades para o produtor são enormes. 

23 de Abril de 2011

João Tété